Jogos Olímpicos: Dias de Paz

J. Souza
4 min readAug 1, 2024

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Imagem da Torre Eiffel durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024
Foto: Ludovic Marin/via Reuters

Depois que a pira foi acesa, Celine Dion apareceu no topo da Torre Eiffel e finalizou a cerimônia de abertura com sua performance dando início a maior gincana do mundo, as Olimpíadas.

Quando o historiador e pedagogo Pierre de Coubertin resolveu recriar as Olimpíadas em 1896, seu objetivo era claro: resgatar os valores olímpicos, que envolvem amizade, coletividade, igualdade e solidariedade.

Coubertin idealizava ser capaz de conseguir unir as nações através da paixão pelo esporte. As famosas argolas entrelaçadas, por exemplo, representam a união dos cinco continentes em contrates com um fundo branco que representa a paz.

Logo dos Jogos Olímpicos

Na Antiguidade, mais ou menos 700 a.C, para que os Jogos pudessem ocorrer, as guerras eram “suspensas”, permitindo que os atletas viajassem até Olímpia, na Grécia, disputassem os jogos e retornassem para suas cidades de origem em segurança.

Este acordo ficou conhecido como trégua olímpica.

Inspirado por essa cultura, Coubertin criou o Centro Internacional para a Trégua Olímpica (CITO), para discutir questões relativas a trégua com os países em tempos de jogos olímpicos.

Hoje a trégua é definida 1 semana antes e estende-se até 1 semana depois dos jogos olímpicos - o que infelizmente nunca aconteceu.

Atualmente, países que não respeitam a “trégua” recebem como punição o veto de seus atletas representarem a bandeira de sua nação. Desta forma o atleta não é prejudicado pelas relações exteriores que o governo de seu país pratica, e compete com uma bandeira neutra, como é o caso dos atletas russos este ano em Paris.

Bandeira dos Atletas Neutros Individuais

Sob o mesmo pretexto que se deu o veto à Rússia, a Palestina solicitou ao COI a “imediata exclusão de Israel das Olímpiadas de Paris de 2024”. Os Palestinos argumentaram que a violação israelense da trégua pode ser atestada pelo massacre em curso na Faixa de Gaza, que dentre os mortos, estão 69 atletas olímpicos, incluindo Hani Al-Mossader, técnico da seleção olímpica palestina de futebol, e Majed Abu Maraheel, o primeiro atleta olímpico palestino.

Mesmo assim, a solicitação não foi acatada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), o que gerou uma grande revolta e questionamentos a respeito do verdadeiro significado das olimpíadas. Essa situação também provocou uma série de ameaças contra os atletas de Israel, que tiveram que ter a segurança reforçada durante os jogos.

Infelizmente a realidade tira toda a beleza dos jogos olímpicos. Num mundo cada vez mais polarizado, abalado por crises diplomáticas e guerras em curso, o COI fica em uma situação delicada, sofrendo pressões externas, tendo que decidir quem pode e quem não pode participar do evento, adotando posicionamentos polêmicos, ocasionando prejuízo a verdadeira finalidade das Olimpíadas.

Mesmo que pareça não fazer muita diferença, deixar de participar dos jogos olímpicos é simbolicamente negativo a imagem de um país, pois demonstra seu isolamento e sua rejeição por parte dos demais.

Os principais prejudicados nessa história é o seu bem mais valioso, os atletas. Que se dedicam em seus treinamentos, se desafiando para superar seus limites, muitas vezes com desvantagens absurdas, enfrentando grandes dificuldades em suas vidas pessoais.

Infelizmente a maioria deles é utilizado como propaganda político-eleitoral. Muitos desses atletas, principalmente de nações menores e/ou sob a égide de um regime ditatorial, chegam onde chegam por meio de incentivos entregues pelo governo e, desta maneira, são impedidos de competir determinadas competições. Isso quando não sofrem ameaças para vencer ou em casos mais extremos, acabam vítimas de uma guerra sem sentido.

A verdade é que os atletas merecem uma Olímpiadas, mas suas nações não.

Talvez a saída fosse acabar com a competição entre nações e reinventar uma competição multiesportiva estritamente entre atletas, que poderiam se reunir e criar sua própria bandeira. Mas se for assim, talvez os jogos tivessem menos visibilidade, visto que, o quê mantem os jogos olímpicos é o público que se atrai por um sentimento patriótico que a competição fabrica.

Apesar de toda a hipocrisia e politicagem que mancha os valores olímpicos, não deixo de me emocionar vendo a garra dos atletas que estão disputando, descobrindo suas histórias e me inspirando com toda sua superação. Pra mim não importa a nação que está disputando, mas o atleta que está disputando.

Obviamente, torço sempre pelo atleta ou equipe mais “fraca” em relação ao seu adversário. Aqueles que tem a história mais triste, que tiveram menos recursos para treinar ou simplesmente o esporte que atua não é dominante em seu país. Pois sei que para estes, a competição tem um peso e um significado muito maior.

Eu poderia dizer que Coubertin não conseguiu realizar o sonho de uma paz mundial pelo esporte, mas conseguiu entregar a paz há muito atleta que, movido pelo sonho de um dia disputar a maior competição multiesportiva do planeta, teve a oportunidade de trilhar um caminho melhor em sua vida.

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J. Souza

Poeta, Cronista e Contista I Bacharel em Administração Pública I Florianópolis/SC